Co-curators MITbr programme at MITsp 2024: Marcelo Evelin, Cecilia Kuska & Marise Maues.

PENSAR E OLHAR OS OUTROS BRASIS

A arte brasileira, com seu potencial de urgência e extrema criatividade, despertará mais uma vez nossos sentidos críticos e sensoriais.

Foi uma alegria para nós, curadores da MITbr, termos recebido – e conhecido – tantas propostas de criação em arte performática brasileira contemporânea. Uma diversidade ampla e farta, uma exuberância de formas e modos de fazer, propostas originais e muito coerentes que mergulham em resgates de memórias ou testemunhos pessoais, ativando territórios simbólicos numa eloquência de poéticas e narrativas tão importantes e necessárias de se fazerem ouvir nesse momento. Foi um exercício de pensar e olhar os outros brasis, o Brasil profundo, um Brasil múltiplo, descentralizado, des-exotizado, um Brasil que quer apostar em um futuro para todes, todas e todos por mais incerto que isso possa parecer.

 O Brasil pensado pela presença do corpo, a implicação do corpo em questões sociais e políticas, nas diferenças de raça, gênero e identidade. Corpo que é desafio e imprevisto, moeda de troca no comercio selvagem do neoliberalismo, “tauba de tiro ao álvaro” dos radicalismos que ameaçam a vida, corpo que ainda sustenta a condição do que seja ser humano, corpos que resistem para não serem silenciados ou docilizados. 

Uma mostra que vai se dar para fora, mas olhando para dentro, olhando para nós e para o que nem sempre vemos, revelando o que somos, o que queremos e podemos ser, no limite do virar outro, outra, outre em nós mesmos. Apresentamos aqui portanto, teatro, dança e performance de um Brasil corporificado, um Brasil de muitas faces, muitas vozes, muitos trejeitos, muitos sotaques, o brasil descendo a ladeira, de uma ponta a outra, um Brasil urgente e real, também em suas ficções mirabolantes, imaginadas para subverter as condições efêmeras do fazer arte no Brasil.

Traçamos um pequeno panorama no que respeita a Arte para falar de sua importância na sociedade como uma necessidade básica dos seres vivos, como uma forma de construir o patrimônio cultural contemporâneo para que a realidade não seja destruída.

Entre os espetáculos selecionados, está Preta Rainha, solo autobiográfico de Wilemara Barros, artista brasileira em foco desta edição. Wilamara é uma das mais importantes bailarinas brasileiras de sua geração e neste momento comemora sua trajetória de 50 anos no universo da dança. O solo dá continuidade aos diálogos e pensamentos da artista acerca do corpo negro e suas possibilidades.

Text by Marcelo Evelin, Cecilia Kuska & Marise Maues.

Marcelo Evelin é bailarino, coreógrafo e pesquisador. Vive entre Teresina, no Piauí, e Amsterdam, na Holanda, e trabalha no Brasil, no Japão e em vários países da Europa como artista independente à frente da Plataforma Demolition Incorporada, baseada no CAMPO, espaço de residência e resistência das artes performáticas em Teresina. Seus espetáculos Ai Ai Ai, Barricada, A Invenção da Maldade e Uirapuru circulam atualmente por teatros e festivais do mundo. Leciona na Escola Superior de Artes de Amsterdam desde 1999 e cria projetos junto a universidades e cursos de mestrado, entre eles ISAC (Bruxelas), Museu Reina Sofia (Madri), EXERCE (Montpellier) e CND (Paris). Em 2019, Evelin recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Piauí.

Marise Maués é natural de Abaetetuba, Pará, e vive e trabalha em Belém. Formada em geografia pela UFPA e em artes visuais pela UNAMA, é mestre em artes visuais, também pela UFPA. Desenvolve projetos artísticos tendo como linguagem a performance e a fotografia, com ênfase em narrativas visuais e em arte contemporânea. Sua pesquisa foca as relações sociais e políticas na Amazônia paraense, a ancestralidade, o meio ambiente, a memória, o patrimônio e as questões de gênero. Marise tem participações em salões de arte no Brasil e fora do país. Artista premiada no VI Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, também participou, em 2021, da Plataforma Brasil - Mostra Digital de Artes Cênicas, promovida pela MIT+, e, em 2023, da programação da plataforma Voices from the South do Edinburgh Fringe Festival, na Escócia.